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A matéria do tempo
José Bento Ferreira

 crítico de Arte


Walter Benjamin acreditava que a técnica do “filme” revelaria uma dimensão desconhecida do mundo visível, que por analogia com o campo das pulsões revelado pela psicanálise ele chamou de “inconsciente óptico”. Rosalind Krauss generaliza essa formulação passageira, legitimando consideravelmente as afirmações que se seguem.

O resgate de técnicas antigas chama a atenção aos meios e põe a mensagem em segundo plano. O pequeno milagre operado pela polaróide era a imagem que se revelava nela. Hoje, as imagens são comuns e o milagre é fazer funcionar aquela velha e encantadora máquina. Outras dimensões do “inconsciente” estão em jogo quando se toma consciência do tempo transcorrido através dessas redescobertas. Cartões postais com fotos retocadas, polaróides e slides já não podem ser vistos como meros suportes para imagens, como foram no passado. Eles são as imagens, no sentido de metáforas. Como “ready-mades”, são deslocamentos que exprimem o contexto de onde foram removidos, sinais que apontam para outros tempos, memórias de espíritos de época.

Essas são as terras e mares ignotos explorados por Marcelo Moscheta: o inconsciente óptico e a matéria do tempo. As paisagens imaginárias dos postais, as linhas do horizonte captadas em diversos lugares do mundo e a evocação do explorador anglo-irlandês Ernest Schackleton (1874-1922), essas figuras épicas, são metáforas da exploração que o artista pratica, como um Leopold Bloom, revivendo a aventura humana enquanto perambula pelas ruas de sua cidade e reflete sobre o tempo presente.

“Progresso como obsolescência”, afirma Rosalind Krauss a respeito de experimentos surrealistas que mostram o outro lado do industrialismo. No tempo em que os confins da Terra estão demarcados e o desconhecido é inatingível, os trabalhos de Marcelo Moscheta sobre a inspiração aventureira conduzem a consequências semelhantes.


texto da exposição Mare Incognitum apresentada no Mariantônia, 2010.